Esperança é o sentimento deste início de 2021. Depois de um período tormentoso, carregado de desafios, o nosso desejo era, de fato, ver as mudanças acontecerem. Contudo, para os manauaras, janeiro ainda nem acabou e eles já enfrentam duras provações.
Como dito em outro artigo, o ano acabou, mas a pandemia ainda não. O clima festivo típico do Natal e o réveillon, somado ao relaxamento de medidas de distanciamento social no Brasil, fez aumentar os números de casos de Covid-19. E, o que a gente mais temia, aconteceu: um colapso no sistema de saúde no estado do Amazonas que fez pessoas morrerem agonizando em corredores hospitalares por falta de um insumo básico, mas extremamente essencial para o tratamento da doença, o oxigênio.
Para evitar que o número de mortes aumente, os pacientes foram transferidos para outros estados. Artistas, esportistas, influenciadores e até anônimos se mobilizaram em uma corrente do bem para arrecadar recursos e comprar cilindros de oxigênio. A falta de abastecimento afetou, inclusive, pessoas que não estão com Covid-19 como bebês e grávidas.
Enquanto o caos domina o estado amazonense, nossos políticos trocam farpas nas redes sociais. Desde o início da pandemia temos falado que o momento é atípico e, portanto, pede união de todos, a começar pela classe que deveria gerir esta nação. Em plena pandemia, a gente vê um crescente tensionamento no âmbito político. No país, essa polaridade enfraquece o combate à doença e o diversionismo ainda não diminuiu entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
O triste cenário de revanchismo político e o negacionismo em torno da doença se agrava com a falta de gestão profissional, principalmente na área da saúde. Nós, do Sistema Conselhos Federal e Regionais de Administração, também temos alertado sobre este sério problema há muito tempo e, inclusive, nos mobilizamos para inserir os administradores, principalmente o Administrador Hospitalar, na ação “Brasil Conta Comigo – Profissionais da Saúde”, criada pelo Ministério da Saúde logo no início da crise pandêmica.
Entretanto, o poder público insiste em fechar os olhos para este cenário e, infelizmente, o resultado da ingerência nesse setor é a morte. Dados do Portal da Transparência revelam que Manaus foi a segunda capital que menos recebeu recurso federal por habitante em 2020. Ora, quais critérios são usados para o repasse dessas verbas? Será que não seria possível a União, pelo menos em tempo de pandemia, rever esses conceitos e dar mais para quem precisa mais?
Logo no início da pandemia, estava claro que o Amazonas era um dos estados que mais estavam perecendo com o surto da Covid-19. Na primeira onda da doença, inclusive, pessoas mortas foram enterradas em valas comuns, uma cena aterrorizante e comovente. Portanto, naquela ocasião era preciso que a União visse nossos irmãos do Norte com mais sensibilidade e empatia. Mas, como Pilatos, parece que os nossos líderes do Executivo federal lavaram as mãos e agora culpabilizam o governador do Amazonas e o prefeito de Manaus por falta de oxigênio para pacientes de Covid-19.
Não é hora de apontar culpados, mas, sim, de criar uma força tarefa para restabelecer a paz e a ordem naquele estado. Está claro, como a luz do sol, que a crise no estado do Amazonas é de gestão. Não gerenciaram corretamente os recursos, não administraram a contento a compra de insumos e não pensaram na logística de entrega desses materiais, por isso a crise no abastecimento de cilindros de oxigênio. Também não pensaram nos recursos humanos e é nítida a sobrecarga dos profissionais que estão na linha de frente dessa triste batalha entre a vida e a morte.
A malversação da coisa pública ceifou, mais uma vez, vidas humanas e interrompeu sonhos de muitas famílias. Até quando vamos testemunhar esse cenário de terror? O caos está instalado no Amazonas. Porém, se o governo federal, os governos estaduais e o poder Legislativo não darem um basta nas suas rivalidades políticas, essa crise vai migrar com potência letal para todo o país.
A vacina, aprovada para uso emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), trouxe-nos de volta a esperança. Mas, se o Brasil não der um basta à polaridade em torno da Sars-Cov 2 e entregar a gestão da saúde para quem, de fato, está apto a administrar as especificidades necessárias a uma consecução satisfatória das tarefas de gestão hospitalar em todos os níveis de complexidade, as duas doses do imunizante não chegarão a quem mais precisa.
É necessário garantir que a Coronavac e a AstraZeneca não faltem por: falha logística tanto de entrega quanto de armazenagem dos produtos, escassez de insumos como seringas, carência de planejamento; insuficiência de recursos humanos para atender a população; entre outras especificidades ligadas à ciência da Administração.
Nós do Sistema CFA/CRAs somos solidários ao povo manauara e sentimos pelas mais de 200 mil vidas que perdemos para a Covid-19 em todo o Brasil. Mais uma vez, colocamos os nossos mais de 400 mil profissionais registrados à disposição do poder público para ajudar a gerenciar com eficiência e eficácia não só a saúde deste país, como também os demais setores. A pandemia chegou sem avisar, mas é possível superá-la com responsabilidade, gestão profissional e compromisso. A hora é agora!
Adm. Mauro Kreuz
Fonte: Presidente do Conselho Federal de Administração