O nome da ministra circulou entre os cotados pelo presidente Bolsonaro para substituir Rodrigo Maia, mas a bancada do agronegócio não concordou com a mudança
Deputada federal por Mato Grosso do Sul, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), está no cargo desde janeiro de 2019. Natural de Campo Grande (MS), é formada em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (MG).
Como gerente-executiva já ocupou quatro secretarias: Planejamento, Agricultura, Indústria, Comércio e Turismo. Foi também secretária estadual de Desenvolvimento Agrário e líder do PSB na Câmara dos Deputados. Após romper com o partido, ingressou no Democratas, sigla em que permanece até hoje.
Grande defensora dos interesses do agronegócio, a ministra conversou com o Conselho Federal de Administração (CFA) e falou sobre as oportunidades que se abrem para os profissionais de Administração e como a tecnologia tem pautado o setor.
CFA: Tendo em vista que o agronegócio é responsável pela maior parte da balança comercial e que a comercialização das commodities no mercado internacional exige um processo que envolve diretamente conhecimentos fundamentais da Administração, como planejamento, controle, gestão, negociação e mediação de conflitos, como a senhora enxerga a atuação do profissional de Administração neste setor? Por exemplo, nas embaixadas e câmaras de comércio?
Se, há poucas décadas, o agronegócio era dominado por profissionais das Ciências Agrárias, hoje, há campo de trabalho para as mais diversas áreas. Um agricultor tem que estar atento aos preços – atuais e futuros – do que produz e se utilizar de instrumentos de proteção. Deve também travar os custos de produção para evitar descasamentos entre receitas e despesas.
O mercado oferece ferramentas para isso, mas o agricultor precisa de assessoria especializada nesse sentido. De forma semelhante, para extrair o máximo das oportunidades que o mercado proporciona, os fornecedores de insumos e processadores dos produtos devem estar ligados nos mercados financeiros e de capitais. Muitas vezes é possível oferecer financiamento ao produtor e, com isso, garantir suprimento, utilizando-se dos instrumentos que o mercado oferece: Cédula de Produto Rural (CPRs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) são ótimos exemplos. É um jogo de ganha-ganha – a empresa financia o produtor e garante sua matéria-prima.
No quadro atual, de oferta apertada para alguns produtos, as empresas que souberam firmar contratos de fornecimento, antes do plantio da safra e devidamente amparados nos instrumentos legais disponíveis, têm conseguido garantir seu suprimento; enquanto muitas, que não se planejaram e contaram com o mercado “spot”, se encontram em dificuldades para se abastecer de matérias-primas.
Tudo isso tem grande interface com o mercado externo – o agronegócio é o setor mais internacionalizado da economia brasileira e os preços internos estão diretamente ligados aos movimentos do mercado internacional. São elementos para mostrar a complexidade da operação do agronegócio, atualmente, e as oportunidades que se abrem para profissionais da Administração.
CFA: Considerando a sinergia entre os três setores do agronegócio: inovação tecnológica, processo produtivo e a comercialização das commodities, é de fundamental importância que haja, nessas três fases, o planejamento, execução e controle de custo, tão bem geridos pelos Administradores. Sem liderança e planejamento o agro sofrerá entre a exportação e o abastecimento. Quais as ações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para diminuir as imprevisibilidades e garantir o bom funcionamento da cadeia?
O Mapa procura tomar medidas para que o agronegócio possa responder com a maior velocidade e intensidade possível, aos sinais de mercado. Assim, se o mercado acena – via preços – que um determinado produto será mais demandado, a atuação do ministério é no sentido de propiciar que o setor produtivo responda a esse estímulo e se beneficie com isso. O Brasil ainda conta com algumas deficiências que precisam ser sanadas. A questão da infraestrutura de transporte é, talvez, a mais evidente.
No campo de atuação de nossa pasta, é realizado um grande esforço para melhorar (ou mesmo manter) o status sanitário dos nossos produtos e, com isso, garantir o acesso aos diversos mercados compradores (nacional e internacionais).
Na área do financiamento, o Mapa – em conjunto com o Ministério da Economia e o Banco Central – procura propiciar uma oferta de recursos a custos compatíveis com a atividade agropecuária, especialmente para os pequenos produtores, que não teriam acesso a esses recursos no mercado privado sem apoio do Estado. Em paralelo, o governo tem tentado modernizar os instrumentos de financiamento sem a participação de subvenções estatais.
A Lei do Agro (Lei n.º 13986/2020) aprovada, neste ano, é um bom exemplo. O ministério, ainda, tem ampliado bastante o alcance do seguro rural, ferramenta fundamental para um setor que trabalha com tamanha imprevisibilidade. O valor da subvenção ao prêmio tem sido expandido ano a ano; o zoneamento agrícola de risco climático tem se modernizado, atualizado e vem abrangendo novas culturas e sistemas de produção. E, assim, o próprio setor, em resposta a esse apoio público, vem oferecendo uma gama de produtos mais adequados às necessidades dos produtores.
Outra atuação, no sentido de reduzir a imprevisibilidade, se dá no campo das negociações internacionais. Os negociadores do ministério visam reduzir as incertezas e arbitrariedades nos fluxos comerciais. O objetivo é que os requisitos técnicos, em especial os sanitários e fitossanitários, sejam estabelecidos com base em evidências científicas e, sempre que possível, baseados em diretrizes de organizações internacionais (como da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Codex Alimentarius e a Convenção Internacional de Proteção dos Vegetais (CIPV).
CFA: A tecnologia 5G promete revolucionar também o agronegócio. A agricultura de precisão, por exemplo, é fundamentada em internet e sensores. O Brasil está preparado para esta nova realidade? Há profissionais preparados para a administração dessas propriedades com tamanha complexidade?
Não há mais como falar em avanço do agronegócio sem falar em agricultura digital. A baixa cobertura de conectividade bem como a difusão, ainda restrita, de tecnologias transformadoras como as tecnologias digitais constituem o maior desafio para o avanço da agricultura contemporânea no país.
Para a agricultura digital, temos que olhar para a rápida transformação em que o digital está e vai promover no campo. Seja pelo uso de ferramentas e tecnologia de: aprendizagem virtual, blockchain, avanços em conectividade, uso de bots (robôs), avanços da agricultura de precisão, inteligência artificial, já temos no Brasil plots de computação holográfica com gêmeos digitais em implantação no campo, entre outras inovações.
É imperativo o Brasil ter uma ampla cobertura de conexão no campo. Já mapeamos a situação da conectividade rural: chega a 80% a falta de cobertura em áreas rurais. Estamos desenvolvendo uma estratégia nacional de conectividade no campo em parceria com o Ministério das Comunicações para integrar o espaço rural brasileiro.
Recentemente, o Senado Federal aprovou substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto de lei que atualiza a legislação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), para permitir que as políticas governamentais de telecomunicações sejam financiadas por recursos do fundo. A agricultura está contemplada nas aplicações do Fust.
Uma das destinações será em políticas para inovação tecnológica de serviços no meio rural coordenadas pela Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Recursos fundamentais para expandir o nível de conectividade no campo. Teremos assento no comitê gestor do fundo, será um novo paradigma para o agro por meio da inovação digital. O agro brasileiro está evoluindo a passos largos e nossos profissionais estão fazendo a diferença no campo.
Elisa Ventura
Fonte: Assessoria de Comunicação CFA