O líder do Conselho Federal de Administração (CFA), Mauro Kreuz, começou a entrevista fazendo um panorama do mundo atual que, segundo ele, tem se mostrado multipolar, belicoso e revestido de alta complexidade. Tais mudanças, juntamente com a era digital, contribuem bastante para que as relações intrasociais se tornem mais complexas.
“A gente vive um verdadeiro tribalismo digital, fruto de uma sociedade intelectualmente cada vez mais rasa e sem valores e princípios éticos. Isso torna as relações sociais difíceis e impacta diretamente na administração pública e privada. Em especial na gestão de pessoas e na produção e entrega de resultados objetivos, seja para a sociedade ou para os acionistas investidores”, disse.
Kreuz continuou reforçando que a sociedade está doente por ausência de princípios morais e éticos que a tornam vulnerável, gerando insegurança para as instituições, empresas e governos que são compostos por pessoas. “Quando o mau exemplo vem de cima, ele se irradia até embaixo e para você recuperar isso é um trabalho muito árduo e que tem que vir de cima. O exemplo tem que vir de cima. Os funcionários são exemplo do presidente, dos seus diretores”, enfatizou.
Ao falar sobre a gestão prisional e de segurança pública, o administrador disse que é preciso ir à origem do problema e não ficar na superficialidade das consequências. Para ele, a delinquência social é resultado de uma sociedade “doente” e que também é papel da Administração “se debruçar sobre questões sociológicas”.
Ele lembrou que o Brasil é a oitava maior economia do mundo, mas ocupa a octogésima posição quando o assunto é desenvolvimento humano. Considerou esse quadro como “contradições e paradoxos do Brasil que, historicamente, tem cometido muitos equívocos”. Ao comentar a economia brasileira, Mauro Kreuz falou das milhões de pessoas que estão desempregadas, que vivem em absoluta pobreza e nas que estão super endividadas – quem deve mais do que ganha. Para ele, o país deveria adotar um tom mais pacificador no relacionamento com o restante do mundo.
Ensino da Administração no Brasil
O presidente do CFA se mostrou preocupado com o rumo da Administração no mundo acadêmico. Segundo ele, há “boas ilhas de ensino” da cadeira no Brasil, porém “predomina ainda um ensino de qualidade duvidosa” que forma quadros que não têm uma inserção competitiva no mercado de trabalho.
“O mercado é muito ávido pela Administração. Os últimos dados mostram, por exemplo, que de cada dez demandas, sete são no campo da ADM. Então, o mundo do trabalho requisita a ciência em todas as suas áreas de atuação. No entanto, o que a gente percebe do outro lado é que falta gente qualificada. Há pessoas com o que a gente chama de diploma vazio, ou seja, não corresponde às competências requeridas pelo mercado de trabalho”, explicou.
O presidente discorreu sobre a educação brasileira, de forma geral, e concluiu que “é muito maltratada em todos os níveis”. Já no fim da entrevista, argumentou que entende que não há país economicamente forte e autônomo sem uma educação de qualidade e que se ela não for revisitada, “vamos continuar vivendo acidentalmente como a gente tem assistido”.
Antes de encerrar, Kreuz também falou sobre a falta de um planejamento estratégico de nação no Brasil e da reforma da previdência que deve ser votada, em segundo turno, no Senado Federal, na próxima quarta-feira, dia 16.
Assessoria de Comunicação CFA