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Ensino da Administração precisa de mudanças

No Debate Qualificado realizado pelo CFA, o professor Antônio Freitas falou da necessidade de criar novas DCNs para os cursos de administração

O pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Pós-graduação da Fundação Getulio Vargas, Antônio de Araújo Freitas Júnior, participou do Debate Qualificado promovido pelo Conselho Federal de Administração (CFA), na manhã desta quinta-feira, 24 de outubro. No evento, ele falou sobre “As tendências da educação superior e sua avaliação”.

Freitas iniciou sua apresentação falando da grandiosidade do Brasil. Segundo ele, por ser um país continental, não é adequado usar a mesma métrica para avaliar as Instituições de Ensino Superior (IES). Para exemplificar, o professor citou realidades de São Paulo e do Norte brasileiro. “A Universidade de São Paulo e a FGV não terão muito trabalho para alcançar notas de excelência, mas aquelas IES que ficam em regiões com realidades mais duras terão mais dificuldades em obter reconhecimento”, disse.

Para sanar essas disparidades, ele explica que é preciso reconhecer as diferenças. “Não dá para ser isonômico e tratar os diferentes como se eles fossem iguais”, criticou o professor.

Atualmente, o Ministério da Educação (MEC) trabalha com o modelo unidimensional, mas estuda a implementação de um sistema multidimensional, no qual será utilizado um conjunto de informações para medir a qualidade do ensino.

A evasão escolar também foi abordada na palestra. Enquanto nos países desenvolvidos cerca de 70% dos jovens estão no ensino superior, no Brasil esse índice cai para 18%. “Não podemos deixar nenhum aluno sem acesso ao ensino. Isso é uma questão de justiça social”, alertou Freitas, ressaltando que o problema da educação no Brasil não é falta de recurso, mas, sim, de gestão.

Novas DCNs para Administração

O ponto alto do Debate Qualificado foi a discussão sobre a necessidade de criar novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o curso de Administração. Esse trabalho é feito pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão de Estado que não está vinculado a nenhum governo. Mas, de acordo com o palestrante, as novas DCNs precisam ser construídas em parceria com o CFA.

“As DCNs são um vetor normativo, um referencial não obrigatório, mas que estará comprometido com a relevância do ensino e a realidade regional”, explicou.

Para estar adequada às necessidades do mercado, as futuras diretrizes precisam pensar no domínio de tecnologias. Segundo o palestrante, essa é uma realidade que precisa permear todo o curso de Administração.

Desafios a superar

No Brasil, mais de 80% das IES são particulares. O professor conta que essa realidade não tem como mudar, pois “o Estado, não tem recursos para gerir mais de três mil instituições públicas”.

Por outro lado, ele fala que é preciso garantir o acesso universal ao ensino superior. O contrário disso é “ferir a Constituição Federal”. “A educação é dever do Estado. Tem que ter recurso para aqueles que não têm como pagar”, comentou Freitas.

Ele reforçou que o problema do Brasil é falta de administração eficaz. Para se ter ideia, ele citou o caso do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que gasta, por ano, cerca de R$ 70 bilhões com livros para a educação básica. Esse material é descartado após o período letivo, o que obriga a autarquia a abrir novas licitações a cada ano.

Em países desenvolvidos, os alunos utilizam tablets e acessam livros digitais e essas obras são atualizada continuamente, evitando a necessidade de novas compras. “Comprar livro para jogar fora é burrice. Se houvesse gestão, o dinheiro poderia ser usado para compra de tablets e, além de acessar conteúdo atualizado com frequência, o aluno ainda é inserido no mundo digital”, comentou Freitas.

Futuro é multidisciplinar

As novas DCNs precisam pensar em explorar novos conteúdos. “A Ciência de Dados, por exemplo, tem mais de administração que podemos imaginar”, reforça o palestrante.

Outra realidade é a força do ensino a distância. Para Freitas, trata-se do “ensino mediado por tecnologia”. Em outros países, ele comentou que já é comum cursos por meio de streaming, serviço que usa tecnologia para exibir vídeos em tempo real. Plataformas como a Netflix já utilizam essa tecnologia. Essa realidade, na educação, permitirá que pessoas do interior tenham aulas com professores renomados.

Por fim, o palestrante falou que, aos poucos, muitas atividades serão substituídas por máquinas. Mas, antes de apavorar o público, ele lembrou que empatia, resiliência, colaboração e tolerância são habilidades humanas que não serão supridas e que é preciso supervalorizar essas competências nas escolas.

“Não vamos fazer a diferença na Administração com o mesmo curso de 20 anos atrás e querer que o aluno seja competitivo. O que prevalecerá, no final, são as habilidade e competências pessoais”, disse.

Ao final da palestra, Antônio Freitas respondeu questionamentos do plenário do CFA. O Debate Qualificado é coordenado pela Câmara de Estudos e Projetos Estratégicos (CEPE) e visa promover a discussão de temas de grande repercussão social e o compartilhamento de conhecimento na área da ciência da Administração.

O evento foi transmitido pelo CFAPlay. Para conferi-lo na íntegra, clique aqui.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação CFA